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Campanha Janeiro Branco: por que “Janeiro” e por que a cor “branca”?

O que, exatamente, o conceito de “Saúde Mental” engloba?

“Saúde Mental”, em uma visão transdisciplinar, humanista e moderna, engloba tanto a ausência de transtornos mentais (ou doenças mentais) como, por exemplo, a Depressão, a Ansiedade Generalizada, a Esquizofrenia ou a Bipolaridade, como, também, a capacidade de o indivíduo reagir, equilibrada e adequadamente, às circunstâncias, condições e vicissitudes da vida, como, por exemplo, a pressão no trabalho, os desencontros amorosos, as cobranças da sociedade, as oportunidades da infância, as responsabilidades da vida adulta, as questões da senilidade etc.

Importa dizer ainda que, se levarmos em consideração que o ser humano é um ser biopsicossocioespiritual – conforme as mais modernas discussões científicas colocam -, falar em “Saúde Mental” também significa falarmos em indivíduos com capacidade de desenvolver e colocar em prática sentidos e propósitos próprios de vida, coerentes com os seus valores existenciais e necessidades espirituais.

A complexidade do ser humano exige que o consideremos como um ser biopsicossocioespiritual

 E como surgiu a ideia de campanha de conscientização? Quem esteve envolvido com ela desde o início?

A nossa inspiração foi a Campanha Outubro Rosa e a sua luta em chamar a atenção da humanidade para a questão da prevenção em relação ao Câncer de Mama. Em se tratando da Campanha Janeiro Branco, o nosso objetivo é chamar a atenção de todas as pessoas do mundo para as questões relacionadas à Saúde Mental e à verdadeira felicidade dos seres humanos.

E porque nos preocupamos com isso? Porque, desde o início da Campanha, somos psicólogos e profissionais da saúde preocupados com o comprometimento da Saúde Mental da humanidade. A partir dos anos 2000, a Organização Mundial de Saúde (OMS) vem, insistentemente, alertando a humanidade quanto ao crescimento vertiginoso das taxas de suicídio, depressão e ansiedade em todo o mundo.

No século XXI, por exemplo, as pessoas têm optado pelo suicídio como nunca antes na história da humanidade ao mesmo tempo em que, também, a Indústria Farmacêutica e da Medicalização da vida têm criado um exército universal e crescente de dependentes químico-psicológicos de fármacos e drogas médicas vendidas em farmácias, padarias, supermercados, postos de gasolina, shoppings e internet.

A humanidade está se transformando em um exército de dependentes químicos, de drogas lícitas e ilícitas, além de um exército de pessoas que não estão satisfeitas consigo mesmas, com as suas vidas pessoais, profissionais e relacionais. Estes são problemas que, indistintamente, têm afetado crianças, jovens, adultos e idosos em todos os cantos do planeta submetidos ao modelo ocidental de sociabilidade voltada à coisificação da vida.

Suicídios, depressão, ansiedade, bipolaridade, esquizofrenias, distimias, transtornos de humor, transtornos alimentares, comportamentos compulsivos e obsessivos, transtornos do sono, comportamentos adictos etc. têm caracterizado e empobrecido a experiência humana no início do tão desejado terceiro milênio – e, como se isso não fosse suficiente, a falta de sentidos humanísticos de vida, assim como a substituição dos valores espirituais de existência por valores, exclusivamente, materialistas também têm agredido, comprometido e inviabilizado o desenvolvimento de histórias de vidas humanas com mais saúde mental, harmonia de relacionamentos, equilíbrio emocional, paz de espírito e, também, mais sentimentos perenes e legítimos de genuína felicidade.

A medicalização da vida têm criado um exército universal e crescente de dependentes químico-psicológicos de fármacos e drogas médicas vendidas em toda esquina

 Por que a escolha do Janeiro, por que a escolha da cor branca e quem são as outras pessoas envolvidas na campanha?

Pouco antes de o ano terminar, todos começamos a pensar em como foi o ano que está prestes a acabar. Começamos a pensar nas coisas que fizemos, nas coisas que vivemos, nos sentimentos que desenvolvemos, nas relações que experimentamos e em tudo que deu certo e que não deu certo no ano que se passou.

Esse é um movimento pessoal, subjetivo, mas que conta com uma grande ajuda da nossa cultura – afinal, em todo final de ano, todos paramos para fazer balanços gerais de nossas vidas. E quando o réveillon, chega, vivemos uma espécie de catarse a partir da qual nos propomos a resgatar os nossos sonhos, construir os nossos projetos, executar os nossos planos e a realizar tudo o que sempre desejamos.

Essa é a mágica que o escritor Carlos Drummond de Andrade reconheceu no texto “Receita de Ano Novo”

Porém, neste poema Drummond aconselha que a pessoa, para ganhar um Ano Novo de verdade, tem que lutar por ele, merecê-lo, fazer por onde despertar o Ano Novo que existe adormecido dentro de cada um de nós. E essa é, justamente, a proposta do Janeiro Branco: uma campanha que busca mostrar às pessoas que elas podem se comprometer com a construção de uma vida mais feliz para si mesmas.

O simbolismo da virada de ano nos inspira a planejarmos uma vida com mais realizações e mais coragem na busca dos nossos próprios sonhos. A virada de um ano para o outro é um presente que a própria humanidade se deu, uma fonte de energia, de inspiração, de coragem, de novas propostas, de resgate dos sonhos, de renovação das forças e de reorganização dos planos.

Acreditamos, portanto, que Janeiro é um mês terapêutico, naturalmente terapêutico! Propomos, então, uma campanha que o use como plataforma, ponto de partida, inspiração e motivação para as pessoas buscarem planejar e mudar as suas vidas em torno de mais sentidos que as realizem e as façam, verdadeiramente, mais felizes e saudáveis em termos sentimentais, emocionais e relacionais ao longo de todo o ano e toda a vida.

Janeiro, o primeiro mês do ano, nos inspira e nos motiva a pensarmos sobre as nossas vidas e termos coragem de começar ou recomeçar o que for necessário para uma vida mais feliz

Por que a cor branca?

Uma vez que branca é a cor a partir da qual toda outra cor pode aparecer, se destacar, existir e acontecer como um projeto, como uma possibilidade – assim como a partir de uma folha em branco qualquer história pode ser escrita ou reescrita. A cor branca nos possibilita qualquer ideia, qualquer criação, qualquer ousadia, qualquer realização. O Branco possibilita inícios e (re)inícios, partidas e convites à criatividade.

A partir da cor branca, de uma folha em branco, qualquer pessoa pode escrever (ou reescrever) qualquer história.

Além disso, a cor branca é a somatória de todas as outras cores, ou, como podemos imaginar, a somatória de todos os projetos e todas as experiências a partir das quais todo sujeito pode partir para escrever a sua própria história.

Portanto, além das ciências ópticas nos ensinarem que a somatória de todas as cores resulta na cor branca, a criatividade do espírito humano – independentemente de credos, etnias, orientações sexuais, identidades de gênero, condição social ou faixa etária -, nos ensinou, ao longo dos tempos, que a pluralidade do humano significa a pluralidade dos projetos de vida, de perspectivas de vida, de sentidos de vida e de objetivos na vida. Ou seja: a pluralidade doas possibilidades de felicidade nas vidas das pessoas.

A cor branca é a somatória de todas as demais cores, ou, para o Janeiro Branco, a somatória de todos os projetos de vida e possibilidades de felicidade

Além de psicólogos e psicólogas, quem são as outras pessoas envolvidas na Campanha?

A proposta da Campanha Janeiro Branco, que nasceu em Uberlândia(MG), é uma proposta transdiciplinar. E não poderia ser diferente. A Campanha, apesar de ter nascido pelas mãos de psicólogos(as) e possuir o espírito da Psicologia, tem por objetivo conscientizar todas as pessoas do mundo a refletirem sobre as suas saúdes mentais, condições emocionais de vida, qualidade de vida e qualidade de relacionamentos na vida.

Por fim, o Janeiro Branco também tem o objetivo de encorajar as pessoas a mudarem as suas vidas quando julgarem necessário. Para tanto, o Janeiro Branco é uma campanha que se relaciona, direta ou indiretamente, com tudo o que é humano e fruto da criação humana, devendo, portanto, contar com a contribuição de todas as áreas do conhecimento humano para enriquecer a própria experiência humana!

Nesse sentido, psicólogos, psiquiatras, médicos em geral, advogados, juízes, promotores, engenheiros, arquitetos, enfermeiros, empresários e estudantes dos mais variados cursos já participaram das edições da campanha, enriquecendo-a e a ampliando para muito além dos consultórios clínicos e ambientes, tradicionalmente, dedicados à saúde das pessoas.

E em que consistem as ações da campanha? Quais são elas e como são realizadas?

Como o objetivo principal da campanha é promover a conscientização da população a respeito de todas as temáticas relacionadas ao universo da Saúde Mental, a principal estratégia da campanha sempre foi a realização de palestras-relâmpago de 20min em espaços públicos ou privados com fluxo de pessoas (salas de espera de hospitais, clínicas médicas, terminais de ônibus, filas de casas lotéricas, pátios de escola, restaurantes populares etc).

Nessas palestras, falamos, de forma didática e direta, sobre sexualidade, a importância do afeto na construção do humano, a importância de falarmos sobre os nossos sentimentos, os sintomas e causas mais prováveis da depressão e da ansiedade, as característica e funções do luto, o valor da infância, as necessidades sentimentais da 3ª idade, o que é síndrome do ninho vazio, o que é Saúde Mental no trabalho etc.

Em empresas, além das palestras-relâmpago, organizamos rodas de conversa e breves dinâmicas interativas sobre os mesmos temas junto aos participantes. Porém, já foram realizadas as mais variadas ações em nome da Saúde Mental, como, por exemplo, a exibição de filmes sobre Educação e Saúde Mental em escolas, distribuição de poesias em ampolas em praças públicas, caminhadas em parques e avenidas, exposição de arte e oficinas artísticas em comunidades terapêuticas, CAPS e hospitais-dias.

Como o Janeiro Branco diz respeito à saúde da criatividade humana, as suas possibilidades são infinitas em nome da Saúde Mental.

 A campanha é amparada por uma lei desde outubro de 2016 na cidade de Campinas (SP). Como isso se deu?

Janeiro Branco de 2016 contou com a participação de psicólogos de várias outras cidades brasileiras, além de Uberlândia. Em sua terceira edição, a Campanha já tinha alcançado cidades de todas as regiões do país, especialmente as regiões Sul, Sudeste e Nordeste. A internet nos ajudou muito na difusão das ações e Campinas(SP) foi uma dessas cidades a que o Janeiro Branco chegou por conta de uma movimentação espontânea por parte de psicólogos locais.

Muito provavelmente, o Janeiro Branco chegou ao conhecimento de um vereador da cidade e, este vereador, teve a sensibilidade de lutar para que a Campanha se tornasse uma lei em benefício de ações educativas em nome da Saúde Mental na cidade.

O mundo inteiro está pedindo ações educativas em nome da Saúde Mental e, um vereador campineiro, sensível a essa urgente questão, conseguiu o apoio da Câmera Municipal de Campinas para que a Campanha Janeiro Branco passasse a ser oficial naquela importante cidade do Brasil. Somos muito gratos a ele e a sua casa legislativa.

Essa oficialização da campanha na 14ª maior cidade do Brasil encheu-nos de ânimo e fortaleceu a nossa convicção de que estamos certos em querer chamar a atenção de todo o mundo para as questões da Saúde Mental. Viva Campinas e que mais cidades sigam o seu sensível exemplo!

 

Fonte: http://janeirobranco.com.br/campanha-janeiro-branco-por-que-janeiro-e-por-que-a-cor-branca/